Será que eu dou conta?

Será que eu dou conta?

Escrever está no campo do prazer e da descoberta, não tem a ver com criar (mais) uma pressão alucinada na lista de tarefas

Por Lara Torres

Temos recebido perguntas sobre os nossos laboratórios de três meses. “Será que eu dou conta?” tem sido a mais comum, e por causa dela fiz este texto. Eu também costumo colocar certa pressão nos projetos em que me envolvo, o que assumo ser uma mistura natural de responsabilidade e interesse por esse compromisso que, afinal de contas, vai preencher algumas horas da semana. E escrever, sendo uma trabalhadora autônoma & escritora & dona de casa tende a se tornar mais uma pressão, especialmente por causa da centralidade que a escrita tem pra mim. Imagino que para muitas pessoas lendo este texto isso também ocorra, em maior ou menor medida.

O que precisamos (nos) lembrar é que processo criativo não tem a ver com controle, mas com entrega. Não é sobre o quanto você produz em quanto tempo, mas o quê e como. Aliás, o quê e como são A definição de processo criativo. Escrever é como decorar uma casa: é o projeto de uma vida. A não ser, é claro, que você seja herdeira. 

Pensando nisso tudo, resolvi responder algumas dúvidas que recebemos sobre os labs longos. 

 

1. Para quem é o laboratório de escrita longo?

Para qualquer pessoa que se interesse por escrita criativa e literatura, independentemente do grau de experiência. Os laboratórios da Casa são lugares de pesquisa e experimentação, de descoberta e desenvolvimento. Têm a ver com descobrir a sua voz autoral, o que você quer dizer e as formas de transmitir essa mensagem num texto. Não são um espaço acadêmico ou formal, mas de nutrição criativa.

Por isso, gosto de dizer que um laboratório longo é, em primeiro lugar, um espaço para pessoas que querem ter uma experiência artística e sair do automatismo que a rotina nos coloca. Será um encontro por semana, à noite, em que você irá parar tudo o que está fazendo e se dedicar a você mesma por duas horas. Isto é,  escutar a si mesma, escutar outras mulheres que escrevem e observar o que outras/es/os artistas estão produzindo pelo mundo, a fim de ampliar seu repertório crítico. E, é claro, criar.

Artistas de outras linguagens também costumam adorar esse processo. Autoras mais experientes poderão aprofundar o conhecimento de ferramentas narrativas e praticar.

2. Preciso ter um projeto em andamento?

Não é obrigatório.

A dinâmica das aulas sempre traz uma ou mais provocações de escrita, que geralmente dialogam com o tópico em discussão. No laboratório de expressão poética, por exemplo, a certo ponto falamos sobre precisão e concisão, e um dos exercícios propostos é produzir um haikai. O haikai é uma poema curto de tradição japonesa com uma forma específica: 5 sílabas no primeiro verso, 7 no segundo e 5 no terceiro. É um tremendo exercício transmitir uma mensagem em três versos. Outro exercício interessante é produzir um haikai a partir da observação do cotidiano. Como a chaleira apita quando a água está fervendo? Qual é o som que produz? Como posso traduzir essa sensação cotidiana em um verso? Os exercícios práticos são lançados para a turma toda.

O que acontece é que algumas pessoas já chegam ao laboratório com um projeto em mente ou um tema que gostariam de perseguir. Nesse caso, o laboratório também pode ser usado como um espaço para desenvolver essa ideia: você terá um grupo e uma facilitadora para te darem devolutivas, trocar referências e acompanharem o processo.

3. E se eu não conseguir fazer todos os exercícios?

A parte da descrição dos cursos que enuncia “o grupo desenvolverá uma intensa produção textual” pode soar intimidadora. Mas não se preocupe: cada uma sabe o quanto consegue se doar. É normal não conseguir fazer todos os exercícios, e isso não é esperado.

Além disso, o impulso de escrever às vezes parte de um acúmulo de estímulos. Na hora, aquele exercício ou debate podem não ter mexido com você, mas amanhã, o mesmo tema pode retornar em forma de uma experiência ou de uma leitura que provocam interesse. No fim, o texto não nasceu no momento da oficina, mas nasceu três, cinco, seis meses depois. Pense no repertório e na inspiração como um poço artesiano: você precisa mantê-lo cheio se quiser beber dele em algum momento.

4. As aulas não ficam gravadas? E se eu precisar faltar?

As aulas dos laboratórios longos não são gravadas, mas há bons motivos para isso. O principal é que a dinâmica dos encontros depende, em parte, da presença e da participação das pessoas, das trocas entre o grupo. Se de 20 pessoas, 5 estiverem presentes porque as outras estão assistindo o curso gravado, o propósito se perde.

Depois, vamos ser realistas. A experiência da aula síncrona é muito mais proveitosa do que uma aula gravada: você pode tirar as dúvidas na hora, ouvir as devolutivas do seu texto e conversar com outras escritoras/es que estão na mesma jornada. Nada substitui isso. 

Contudo, se um imprevisto surgir e você precisar mesmo faltar, ainda é possível solicitar que essa aula específica seja gravada. 

Tem alguma outra dúvida? Mande aqui nos comentários, no Instagram ou no nosso Whatsapp: (19) 981428853. Vamos adorar ouvir você.

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Lara Torres nasceu no interior de São Paulo, em 1990. Formada em Jornalismo na Universidade Estadual Paulista, cursou também as especializações em Cinema Documental na Fundação Getúlio Vargas e Gestão de Projetos Culturais na Universidade de São Paulo. É escritora de ficção, com contos publicados em diferentes antologias. É a idealizadora e gestora da Casa Inventada.

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