Três poemas de Sílvia Barros

Três poemas de Sílvia Barros

Foto


A fotografia desgastada
Pelo sol que bate
Na estante
Todas as manhãs
É a continuidade infinita de um livro que se deu como pronto.

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Propaganda


Eu sou uma campanha
Sou uma hashtag
Sou um projeto de sucesso
Um clipe da Beyoncé
Sou um novo lançamento
Eu sou um outdoor
Calada
Sozinha
Ensimesmada
No meio da avenida.

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Novelo


O novelo
que o gato derruba
rola
desembola
correndo pela casa
os pulinhos
com a linha agarrada
na unha
o rabo alto apontando
o teto.
Os olhos miram você:
calada no canto
trançando o próprio cabelo
calada olhando
o nada
a parede
branca
o dorso da mão
preta

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Útil


Odeio me sentir peça
Não quero fazer parte da engrenagem
Quando sou eficiente demais,
Penso:
E seu eu quebrar?
Se eu errar
Um pouco mais pra direita
Ou pra esquerda?
Ser importante eu quero,
Ser bem-vinda, quero
Ser linda, também.
Ser útil é qualidade de coisa.

 

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A AUTORA

Sou Sílvia Barros (@silvia__barros_), nasci em Natal, RN, mas cresci e vivo na cidade de Niterói, RJ. Sou professora por formação e escritora por nascimento. Atuo na educação básica e na pós-graduação. Sou doutora em literatura brasileira pela UFRJ e autora de quatro livros: “O belo trágico na literatura brasileira contemporânea”, "Literatura de autoria negra",  “Em tempos de guerra” (poesia) e “Poemas para meu corpo nu” (poesia). Tenho participação em diversas antologias como Cadernos Negros, volumes 41 e 42, e Poetas negras brasileiras: uma antologia (organizada pela Jarid Arraes). 

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