Por Marina Dantas
Era uma vez Josélia, uma ninfeta saltitante por entre as veredas da caatinga que andava com os pés descalços partindo seixos e os cabelos soltos em crinas.
Tá de brincadeira, amiga? Vão me chamar de ju-men-ta! Só faltou colocar os cactos do sertão, soltar um oxente mainha e dizer que parti em retirada para ver o mar. Tenha paciência. Não quero a minha história contada assim não, olhe, estais me saindo uma péssima escritora. Melhor eu ir pegar a ficha para as autoras de renome porque você nem pra arremedo tá servindo.
Era uma vez Josélia, uma mulher refinada da alta sociedade, política de berço e família de terras. Seu sobrenome abria-lhe portas, escancarava janelas, tirava cisco do olho e fazia o sol nascer. Contudo, pela lei do berço, o nome que outrora a encastelava descobriu não ser de sua linhagem. O infortúnio assolou seu destino de forma inesperada. Na idade da donzela, quando o coração é o órgão central da existência, viu seu amor romântico corrompido pelo incesto e a fantasia da família desmoronar.
Josélia? Vai contar a história de Josélia? E não era a vez de Amélia, depois a minha e aí sim é que seria Josélia?
Nada disso, Juliana! Eu por último coisíssima nenhuma! Assim que a digníssima veio para a cerimônia de escrita eu já puxei a cadeira e cá estou esperando a princesa começar o tec tec no teclado. É muita comiseração passada para sair duas linhas.
Josélia, você é uma baita de uma fura fila! Já estou aguardando essa lerda e seu tec tec há três histórias. Não só eu, mas foi assim com Bibi, o cara morto, Amélia e as mensageiras. Aí vem a lindeza e simplesmente passa na frente?
Não tenho culpa se não prestam pra musa, coach de protagonismo, psicóloga de botequim ou fantasma na hora de descanso. Eu me empenho em me ver finalmente com vida, alegrando algumas horas dessa louca. Acha fácil disputar espaço na mente barulhenta dessa infeliz? Dancinha da moda; música nova; lembrar de comer; fazer feira; responder mensagem; angariar clientes. Tentar vê-la calma, concentrada, com coragem para finalmente sentar e escrever? É uma roleta russa sem fim! O que é pior, porque se tivesse, já teríamos desistido e partido para outra literata.
Ah! Pois já que a beldade acha tão difícil assim pode sair da cadeira; é a minha vez. Vá andar atrás de escritoras de renome, vá! Juliana e eu não fazemos questão alguma.
Concordo com Amélia!
Nada disso, minhas queridas! Tenho um parágrafo inteiro escrito, se atrapalharem o fluxo da belezinha já sabem, ela pára tudo e temos um novo carrossel de coitadismo. Meu trabalho vai por água abaixo. Então...
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